Cabeça e pescoço

Enfª Vasni de Araújo Brito Guedes

Enfermeira especialista em Oncologia pela Universidade Federal de São Paulo
Especialista em Gerenciamento em Enfermagem pelo Centro Universitário SENAC.
Enfermeira do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Diretora Financeira da ABRENFOH.

O impacto de um programa de educação na qualidade de vida e redução dos sintomas de ansiedade do paciente com câncer de cabeça e pescoço

Artigo intitulado:

O trabalho intitulado “Qualidade de vida, ansiedade e depressão de pacientes com câncer de cabeça e pescoço: estudo clínico randomizado”, de autoria de Hortense, Flávia Tatiana Pedrolo; Bergerot, Cristiane Decat; Domenico, Edvane Birelo Lopes De e publicado no Revista da Escola de Escola de Enfermagem da USP, disponível em: https://www.scielo.br/j/reeusp/a/tJdrJSd9mRNrGQpGkGk9Pts/?lang=pt

Autores: Hortense, Flávia Tatiana Pedrolo; Bergerot, Cristiane Decat; Domenico, Edvane Birelo Lopes De

O presente estudo enfatiza o quanto um programa educativo, multimidiático, estruturado e pautado nos princípios do autogerenciamento capacita o paciente com câncer de cabeça e pescoço para conduzir situações inerentes a seu diagnóstico, tratamento e reabilitação, e demonstra o impacto positivo que esta educação tem no aumento de qualidade de vida, bem como, pode reduzir os sintomas de ansiedade e influenciar no bem-estar emocional.

As autoras relatam que o autogerenciamento (self-management) se trata de um conceito estratégico para ações educativas voltadas para a construção de habilidades no paciente, seu familiar e/ou cuidador para a tomada de decisão sobre diferentes aspectos da condição de adoecimento na cronicidade, sejam eles biológicos, psicossociais e/ou espirituais, numa relação de respeito e planejamento mútuos.

Neste estudo experimental, randomizado e controlado, a população foi composta por pacientes recém-diagnosticados com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço, elegíveis no período entre outubro de 2015 e abril de 2016. Os dados foram coletados entre outubro de 2015 e abril de 2017, respeitando os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos. Foram selecionados 20 pacientes e acompanhados por um período de 12 meses. Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos: 10 pacientes no grupo controle- submetido ao plano educativo convencional; e 10 pacientes no grupo experimento- submetido ao plano educativo para o autogerenciamento. Houve perda de 3 pacientes devido óbito, totalizando 9 pacientes no grupo controle e 8 pacientes no grupo experimento.

Em ambos os grupos foram aplicados trimestralmente no período de um ano, os questionários: Functional Assessment of Cancer Therapy – Head and Neck (FACT-H&N) para avaliação de Qualidade de Vida e a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS) para avaliação de sintomas de Ansiedade e Depressão.

A intervenção educativa proposta para o grupo experimental era composta por consultas médica e de enfermagem realizadas em conjunto, com exibição de vídeo educativo. Após o vídeo, os pacientes participavam de simulações do uso de artefatos (cânulas de traqueostomia, sondas de alimentação e materiais para curativo) em manequins apropriados. Este momento proporcionava o diálogo com o paciente e seus acompanhantes. Ao final, era fornecido material em mídia (DVD) para consulta no domicílio, além de material impresso.

Como resultado foi observado, uma correlação inversa significativa entre FACT-H&N e HADS, indicando uma relação existente entre maiores escores de Ansiedade e Depressão e piores escores de Qualidade de vida, no grupo controle, onde foi aplicado o método convencional de educação. Também pode-se observar o efeito significativo para piora do bem-estar social/familiar e das preocupações adicionais, neste mesmo grupo.

Sabe-se que a família participa do processo de adoecimento e sua dinâmica se altera de acordo com as demandas da doença, conhecer esta composição e a estrutura familiar é fundamental para a estruturação de ações educativas. Na população deste estudo, havia alta prevalência de tabagismo e de uso de álcool. As autoras citam que o uso do tabaco pode ser entendido como uma questão sociocultural e, para alguns usuários, o fumo e o álcool são utilizados como estratégias para lidar ou evitar sentimentos negativos como medo, preocupação, raiva e tristeza.

A ação educativa planejada é muito importante para abordagem integral, influenciando o indivíduo em ações referentes à prevenção, detecção precoce e tratamento, utilizando o autogerenciamento para estimular a autonomia do paciente

As autoras descrevem que os familiares são a principal fonte de apoio tanto social como emocional para os pacientes, desempenhando papel importante no gerenciamento das consequências do processo de adoecimento. A existência de possíveis problemas de relacionamento anteriores pode estar ligada à dependência de álcool, principalmente, tabaco e outras drogas ilícitas. Nessas condições, a abordagem do cuidado centrado no paciente e na família pode auxiliar na recuperação dos laços afetivos, possibilitar as reaproximações, bem como proteger os familiares/cuidadores de sobrecarga emocional negativa.

Elas destacam que a ação educativa deve ser cientificamente alicerçada e delineada para atender as demandas dos pacientes e seus familiares com múltiplas intervenções, que, uma vez empreendidas, devem ser sistematicamente avaliadas com indicadores que sinalizem sua efetividade e sua eficiência.

Este estudo vem corroborar, que o enfermeiro e a equipe multidisciplinar, tem papel de fundamental importância no processo de educação do paciente com câncer de cabeça e pescoço, e o quanto o planejamento desta educação e empoderamento deste paciente /familiar no processo de autocuidado, pode reduzir os sintomas de ansiedade e depressão provocados por esta patologia e melhorar a qualidade de vida deste paciente.