Artigo intitulado:
O trabalho intitulado “Equity across the cancer care continuum for culturally and linguictically diverse migrants living in Australia: a scoping review”, de autoria de Brighid Scanlon, Mark Brough, David Wyld & Jo Durham e publicado Globalization and Health, disponível em: https://globalizationandhealth.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12992-021-00737-w
Continuum do tratamento oncológico: a Comunicação como Estratégia de Cuidado para os pacientes de diversas culturas e linguas morando em outros país.
Devido a instabilidade Global influenciada por fatores tais como governança fraca, distribuição desigual de recursos, guerras, injustiça social, além das pandemias, incluindo a pandemia Covid-19, acompanhada de pobreza e dificuldades financeiras, fez com que muitas pessoas migrassem para outros países. Imigrantes que enfrentam barreiras de linguagem e culturas diferentes e que podem ser afetados no que se diz respeito a sua saúde, visto que os modelos de saúde adotados são diferentes dos seus países de origem.
Nos países de alta renda, as desigualdades estão presentes em todo o processo de contínuo do tratamento do câncer para os imigrantes, isso porque a disparidade de saúde definida como: “… um tipo particular de diferença de saúde intimamente ligada a desvantagens econômicas, sociais ou ambientais” afetam adversamente grupos de pessoas que experimentaram sistematicamente maiores obstáculos sociais ou econômicos à saúde.
Os poderosos efeitos desses processos criam barreiras macrossociais e micro institucionais, que podem se manifestar como racismo institucional, sistemas de saúde fragmentados e difíceis de navegar, falta de informações de saúde adequadas e acessíveis, altos gastos diretos e um ambiente de comunicação deficiente. Este estudo foi realizado através de uma revisão de escopo, a qual foram incluídos 71 estudos. Dentro dos estudos encontrados, dois destes, destacaram a recomendação de rastreamento para os imigrantes de países endêmicos de hepatite B e Helicobacter pylori como prevenção do câncer. Pacientes portadores de hepatite B crônica têm de 6 a 12 vezes mais probabilidade de desenvolver câncer de figado. Já pacientes com H. pylori, apresentam risco de câncer gástrico.
Na fase de detecção do contínuo do tratamento do câncer, estudos relataram as barreiras e / ou facilitadores para os serviços de rastreamento do câncer cervical, de mama e colorretal, a qual mostraram que barreiras encontradas pelos imigrantes foram: falta de conhecimento do rastreamento, sentimentos de vergonha, medo sobre quem iria fazer o atendimento, preocupações com privacidade, crenças religiosas e culturais, barreiras de linguagem, rastreamento não promovido nos idiomas da comunidade e a distância do local de saúde.
Na fase de diagnóstico, infelizmente, o estudo identificou apenas um artigo, que ainda sem resultados disponíveis.
Na fase de tratamento, uma das intervenções destacadas foi utilizar lembretes de compromissos no idioma dos pacientes, o que aumentou significativamente a adesão às taxas de consultas e comparecimento.
Frente a equidade nos resultados dos tratamentos, observou-se que a população árabe, chinesa e grega apresentava pior qualidade de vida, e maior incidência de ansiedade e depressão, e pacientes que falam cantonês, árabe e mandarim experimentaram tratamento desigual devido à expectativa dos serviços de saúde de proficiência em inglês.
Para os pacientes imigrantes, na fase de sobrevivência do câncer, problemas como maior necessidade de informações para gerenciar a doença e mais explicações sobre efeitos colaterais antes de submeter o tratamento, foram relatados. Além disso ‘sobreviventes de câncer imigrantes’ eram mais propensos a relatar cuidados físicos não atendidos ou necessidades de informação.
Em relação a fase dos cuidados paliativos, pacientes e familiares encontraram problemas durante a transição para os cuidados paliativos, como comunicação deficiente sobre o manejo do paciente e indivíduos que não desejavam discutir sobre morte e o morrer, e destacaram a importância das necessidades culturais e espirituais.
Pacientes que não falavam inglês, não receberam uma avaliação equitativa dos sintomas físicos no final de vida. Dos pacientes que necessitavam de um intérprete na admissão hospitalar, apenas 9% acessaram os intérpretes profissionais durante a admissão.
O estudo mostrou o quanto há fragilidade no cuidado a esta população migratória. Há necessidade de fornecer mais recursos e treinamentos para toda a equipe multidisciplinar para atender essa população específica em toda a jornada do paciente em tratamento com câncer.
Existe a necessidade urgente dos serviços de saúde globalmente, a se tornarem sensíveis as necessidades diversas das populações também migratórias.
O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), corrobora com esta reflexão, trazendo que as linhas de cuidado podem ser utilizadas como estratégia de estabelecimento do percurso assistencial, com o objetivo de organizar o fluxo dos indivíduos, de acordo com as suas necessidades. (INCA, 2018).
O ponto principal deste artigo, foi o destaque para a comunicação deficiente em todo o continuum do tratamento do câncer. Comunicação como barreira significativa para o cuidado destes pacientes imigrantes, que expressaram sentimentos de solidão e incompreensão pelos serviços de saúde