Em alguns casos realizar exercício de resistência pode contribuir na diminuição do linfedema e manutenção da força de membros superiores e inferiores em mulheres com câncer de mama.
Artigo intitulado:
O trabalho intitulado “Resistance exercise and breast cancer related lymphedema a systematic review update and meta-anaysis”, de autoria de Hasenoehrl T, Palma S, Ramazanova D, Kölbl H, Dorner TE, Keilani M, Crevenna R. e publicado no Support Care Cancer. 2020; 29(Suppl 8): 3593-3603. DOI: doi.org/10.1007/s00520-020-05521-x., disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs00520-020-05521-x
O câncer de mama é tido como a neoplasia mais comum em mulheres, com taxas de incidência de mais de um quarto de milhão de novos casos nos EUA e quase meio milhão na Europa, representando cerca de um terço de todos os novos diagnósticos de câncer nas mulheres. A incidência no Brasil no ano de 2020 foi de 66.280 novos casos.
Sabe-se que, aproximadamente 20% dessas pacientes desenvolvem linfedema relacionado ao câncer de mama (BCRL) e seu tratamento. O linfedema consiste em um acúmulo excessivo de um fluido rico em proteínas que normalmente seria drenado pelo sistema linfático, causando um inchaço regional no braço do lado acometido pela neoplasia. Atualmente ele é considerado uma doença incurável e crônica, o mesmo diminui a qualidade de vida dessas mulheres pois está associado a sintomas como dor, peso, rigidez, diminuição da amplitude de movimento, habilidades motoras grossas e finas, prejudicando a execução de atividades de vida diária. Seu tratamento visa o manejo do linfedema e a preservação da função do braço afetado.
Até o início dos anos 2000, as sobreviventes do câncer de mama eram aconselhadas a se abster de exercícios vigorosos, repetitivos ou excessivos na parte superior do corpo, pois acreditava-se que essas atividades físicas pudessem levar ao desenvolvimento de um novo ou ao aumento do linfedema já existente.
Somente há algumas décadas atrás, Harris e Niesen-Vertommen começaram a desafiar esse mito, o que proporcionou a publicação de mais de vinte estudos de intervenção com exercícios de resistência e uma serie de revisões sistemáticas.
Atualmente o tratamento padrão do linfedema consiste no uso de terapia descongestiva completa por meio da realização da drenagem manual, bandagem, compressão, cuidados com a pele e exercícios. Hoje existe um consenso de que a maioria das sobreviventes do câncer de mama com linfedema podem se beneficiar da realização do exercício de resistência, visto que o mesmo está associado a manutenção e recuperação da função física do braço afetado, bem como de uma composição corporal saudável e, portanto, da redução do risco metabólico.
Esse estudo demonstrou que houve uma redução significativa do linfedema relacionado ao câncer de mama após a realização de exercício de resistência, também houve melhorias significativas da força muscular nas extremidades superiores e inferiores, evidenciando que os exercícios de resistência não possuem um efeito negativo sistêmico sobre o linfedema relacionado ao câncer de mama, pelo contrário, potencialmente o diminui.
O mesmo também abre novas possibilidades de pesquisa e salienta a importância do desenvolvimento de uma forma de medida mais fidedigna do linfedema.
Atualmente o método mais eficaz é o uso da espectroscopia de bioimpedância, um dispositivo que usa a corrente elétrica para medir o volume do líquido intracelular, porém ainda não existe um método ou uma forma de medida capaz de diferenciar entre o linfedema do braço e a massa muscular. Sendo assim ainda se faz necessário o desenvolvimento de um método de medição padrão ouro para a avaliação do linfedema relacionado ao câncer de mama.
Também é importante salientar que os resultados dessa meta-analise só podem ser utilizados após ser realizado algumas precauções de segurança, pois ainda não está claro por que um pequeno numero de pacientes não respondem bem ao exercício de resistência.
Portanto, várias medidas de segurança devem ser consideradas antes de ser recomendado exercícios de resistência, como ser realizado um exame clinico completo por um especialista, para monitorar o linfedema das pacientes durante o programa de intervenção com exercício de resistência e recomenda-se que o mesmo seja pelo menos parcialmente supervisionado por um especialista em exercícios.
Recentemente o instituto nacional do câncer publicou um estudo que comprovou que mulheres submetidas a cirurgia do câncer de mama, podem praticar, sem riscos, exercícios de ombro com amplitude de movimento livre no pós operatório. Isto melhorou de forma significativa a recuperação física das pacientes e favoreceu a reinserção social, pois reduziu o medo que as pacientes tinham de retomar as suas atividades de vida diária.
Ambos os estudos realizam uma quebra de paradigma trazendo novos horizontes para a manutenção da qualidade de vida das pacientes portadoras de câncer de mama. Modificando a pratica clínica do enfermeiro visto que antigamente a nossa orientação a essas pacientes era de que se evitasse movimentar o membro operado logo após a cirurgia e não fossem realizados exercício de resistência.