Artigo intitulado:
The effect of early and systematic integration of palliative care in oncology on quality of life and health care use near the end of life: A randomised controlled trial, de autoria de Vanbutsele G; Van Belle S; Surmont V; De Laat M; Colman R; Eecloo K; Naert E; De Man M; Geboes K; Deliens L; Pardon K. E publicado na European Journal of Cancer 124 (2020) 186e193. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ejca.2019.11.009, Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31812934/
A integração precoce dos cuidados paliativos na oncologia foi desenvolvida para fornecer orientação sobre o manejo dos sintomas e discussões sobre os objetivos do cuidado, considerando os valores do paciente/família para melhorar a qualidade de vida de pacientes oncológicos com doenças avançadas.
Foi realizado um ensaio clínico randomizado no departamento de Oncologia Médica, Departamento de Oncologia Torácica e Departamento de Oncologia Digestiva do Hospital Universitário de Ghent (Flandres, Bélgica), com o objetivo de identificar se o cuidado paliativo integrado, de forma precoce, nos pacientes oncológicos, influenciou na qualidade de vida nos cuidados de fim de vida e se houve alguma diferença na utilização de recursos de saúde nestes pacientes.
Os pacientes elegíveis para o estudo foram aqueles que tinham 18 anos ou mais, com diagnóstico de câncer avançado (histológica ou citologicamente confirmado) devido a um tumor sólido, uma performance status através do European Cooperative Oncology Group (ECOG) entre 0 e 2, expectativa de vida estimada de 12 meses (avaliada pelo oncologista responsável pelo tratamento) e estavam nas primeiras 12 semanas de um diagnóstico de um novo tumor primário ou em primeira progressão de doença.
Após a randomização, os pacientes do grupo intervenção receberam consultas com enfermeiras da equipe de Cuidados Paliativos mensalmente, que tiveram como foco a compreensão da doença, carga de sintomas e forneceram suporte na tomada de decisões e suporte para necessidades emocionais, sociais e/ou espirituais. Os pacientes do grupo controle que foram designados para cuidados habituais, apenas se reuniam com a equipe de Cuidados Paliativos sob demanda do paciente ou do médico responsável.
A qualidade de vida dos pacientes foi avaliada em 12 semanas e 6 semanas depois, até o óbito do paciente e os indicadores que mediam o uso de recursos de saúde foram: o tratamento oncológico sistêmico nos últimos 14 dias de vida; qualquer visita ao pronto atendimento; admissão e unidade de terapia intensiva (UTI); mais de duas internações hospitalar; internações superiores há 14 dias; internação em unidade de Cuidados Paliativos e óbito hospitalar. Além disso, foi medido um score de agressividade no tratamento.
A qualidade de vida nestes pacientes em 12 semanas foi o desfecho primário no qual o estudo foi desenvolvido e resultou em uma amostra de 186 pacientes, onde a maioria dos pacientes eram do sexo masculino, tinham entre 55 e 64 anos e o principal diagnóstico oncológico foi o câncer gastrointestinal avançado.
Ainda, foi encontrado que 92% dos pacientes do grupo intervenção compareceram a, pelo menos, uma consulta de Cuidados Paliativos enquanto apenas 44% do grupo controle. Quanto à qualidade de vida em fim de vida, o grupo intervenção apresentou um índice significativamente mais alto de estado de saúde global e qualidade de vida quando comparado com o grupo controle, onde o número de óbitos foi semelhante, 73 e 74 pacientes, respectivamente.
Por fim, ao analisar utilização de recursos de saúde nos últimos 30 dias de vida não foi observado diferenças estatísticas significantes entre os grupos.
Foi possível observar com este estudo que a integração precoce e sistemática do acompanhamento com equipe de cuidados paliativos com os cuidados oncológicos ativos à pacientes com doenças oncológicas avançadas, desde o diagnóstico, resultou em maior qualidade de vida para estes pacientes, especialmente próximo do fim de vida, o que se justifica, uma vez que o maior tempo de acompanhamento com a equipe permite a maior criação de vínculo, maior tempo de enfrentamento, melhor manejo de sintomas e discussões essenciais que devem ser feitas antes da piora progressiva e rápida da doença (o que muitas vezes acaba sendo o momento em que a equipe de cuidados paliativos é acionada e que acaba limitando o campo de atuação desta).
Por fim, embora estes dados estejam de acordo com outros estudos da literatura, este foi o primeiro estudo europeu a examinar os efeitos da integração precoce da equipe de cuidados paliativos na qualidade de vida próximo ao fim da vida aos pacientes oncológicos com doenças avançadas.
Este estudo pode servir de base para inúmeras discussões futuras, tanto para o melhor cuidado aos pacientes em fim de vida, utilizando de melhores práticas baseadas em evidências, como a otimização e discussão de recursos destinados a pacientes oncológicos com doenças avançadas e fim de vida, bem como os benefícios para os familiares e a própria equipe de cuidado, que muitas vezes podem sofrer altos índices de estresse relacionados a baixa qualidade de vida e grande sofrimento destes pacientes quando chegam próximos ao momento do óbito.